Livro | Alerta Vermelho (Diários de um Robô-Assassino #1)
Diários de um robô que só quer maratonar as suas séries em paz
A premiada série de Martha Wells finalmente chega ao Brasil pela editora Aleph e já vem causando! Alerta Vermelho é o primeiro livro da série Diário de um robô-assassino, atualmente sendo adaptada pela Apple TV.
Qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando você pensa em um robô humanoide que hackeia o próprio sistema e conquista autonomia? Um banho de sangue? Bem, o autointitulado robô-assassino de Alerta Vermelho tem outras prioridades... Mais especificamente, maratonar milhares de horas de conteúdo audiovisual em seu feed de entretenimento. Isso, é claro, se os humanos deixarem.
Porém, ao ser enviado como parte de uma expedição a um planeta remoto — até mesmo um robô precisa trabalhar —, uma série de eventos misteriosos coloca em risco os humanos que ele foi designado a proteger. Mesmo sem entender muito bem o motivo, ele agora se importa de verdade com a segurança daquele grupo irritante — e ninguém vai tocar nos humanos dele. O robô vai se certificar disso.
Ao explorar os limites da inteligência artificial, intrigas políticas e questões como autonomia e identidade pessoal, Martha Wells transcende as fronteiras da ficção científica ao oferecer uma narrativa que seduz tanto entusiastas do gênero quanto leitores ávidos por uma história envolvente.
Eu não sei o que quero. Eu disse isso em certa altura, eu acho. Só que não é só isso: na verdade não quero que ninguém me diga o que eu quero, ou que tome decisões por mim.
Alerta vermelho é uma daquelas leituras que você começa sem grandes expectativas e, de repente, está rindo e filosofando sobre a condição humana e a inteligência artificial. A estrela do show é, claro, o nosso narrador-protagonista construto misantrópico que se autodenomina "Robô-Assassino” — um ser quase onipresente, com uma leve (ou nem tão leve) arrogância em relação aos humanos. Robô-Assassino vê a humanidade de cima, com uma mistura de indiferença e desdém. Mas, curiosamente, tem seus momentos de "coração mole" para alguns de seus humanos favoritos, que parecem ganhar alguma simpatia — ou pelo menos tolerância — em meio ao desprezo geral.
O que Robô-Assassino quer, na verdade, é uma coisa que muitos de nós entendemos bem: a paz para maratonar suas séries sem interrupções, sem obrigações. Ele é aquela pessoa, se ele fosse uma pessoa, que suspira e pensa: "Se eu pudesse, passaria o dia todo só assistindo". E quem pode culpá-lo? Ele não quer ser herói. O que ele quer é o sossego de uma boa maratona de entretenimento. Isso cria uma conexão instantânea com o leitor, que se identifica com o desejo de procrastinar um pouquinho mais e deixar as preocupações para depois.
Mas o universo que Martha Wells constrói é muito mais do que uma sátira sobre maratonas e trabalho. O futuro distópico apresentado tem um sabor assustadoramente real, uma visão que faz o leitor se questionar se, talvez, não estamos caminhando para isso. Aqui, a tecnologia e a sociedade se entrelaçam de maneiras que afetam diretamente como as pessoas se relacionam. Relacionamentos poliamorosos e sexualidade fluida são normas, destacando uma sociedade onde as fronteiras entre gêneros e papéis são muito menos rígidas do que hoje. Essa estrutura permite à autora explorar relações humanas de uma forma mais orgânica e menos limitada, algo que também reflete uma certa visão de liberdade e identidade no futuro.
Além de toda a diversão, a autora também quer que pensemos sobre os limites da autonomia e da consciência. Através do ponto de vista de Robô-Assassino, questionamos a moralidade dos seres criados para servir, a responsabilidade dos criadores e até o que realmente significa "viver". Ele é um guardião, mas também quer ser livre, questionando se existe espaço para uma "vida real" para ele. A obra provoca reflexões sobre liberdade, lealdade e o papel da inteligência artificial na sociedade, de um jeito que faz o leitor refletir sem perceber — como quem está ali, só de olho no próximo episódio, e de repente se vê filosofando sobre o sentido da existência.
Olha, é por essas e outras que eu fico feliz que não sou um humano. Eles inventam cada coisa.
Em resumo, Alerta vermelho é uma leitura rápida e divertida, mas com camadas que vão além do simples humor. É uma provocação velada, uma chamada para pensar em um futuro em que as máquinas pensam por si mesmas, mas talvez só queiram maratonar uma boa série em paz.
Afinal, quem não quer?
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Referências
Goodreads: Alerta Vermelho (Diário de um robô-assassino, #1)